A Expedição Langsdorf, empreendida entre 1826 e 1829, percorreu cerca de 13 mil quilômetros do território brasileiro numa grande viagem de reconhecimento científico e de reconhecimento dos habitantes e do meio-ambiente do país. Hercule Florence tinha 19 anos no início da viagem, e participou dela como desenhista e escritor. Este livro traz o seu relato e a linda iconografia que ele produziu.

Uma breve história sobre Hercule Florence e a Expedição Langsdorf Hercule Florence era monegasco, e fascinado com as histórias de Robinson Crusoe sonhava em dar a volta ao mundo. Com 22 anos, no começo do século 19, embarcou num navio que o trouxe ao Brasil, país onde teve 20 filhos em dois casamentos e onde se enraizou para sempre. Desenhista, foi logo contratado para participar da Expedição Langsdorf, uma das mais importantes expedições exploratórias que percorreram o Centro e o Norte do País e da qual ele deixou quatro diferentes versões em textos e desenhos. Esta versão impressa é uma delas. Na volta da expedição ele se radicou em São Carlos (SP), inventou a Zoofonia, uma forma de registrar os sons dos animais; escreveu histórias que ouviu sobre índios e escravos, foi educador, fazendeiro e um dos inventores da fotografia – sim, 1833, em Campinas, interior de São Paulo, Hercule e o farmacêutico Joaquim Corrêa de Mello se debruçaram sobre uma imagem que – pela primeira vez na história – foi chamada de “fotografia”. Em 2022, depois de um grande encontro em Évora (Portugal), ele foi finalmente reconhecido como pioneiro dos inventos fotográficos. Hercule nasceu em Nice (França) em 28 de fevereiro de 1804, numa família de intelectuais e artistas – seu pai, Arnaud Florence, era cirurgião-mor e artista; seu avô materno, Claude Vignalis, foi pintor oficial da corte monegasca; seu tio materno, JeanBaptiste, era considerado um dos principais artistas monegascos. Com a morte do pai, quando Hercule tinha 3 anos, a família voltou para a casa materna em Mônaco. Aos 16 anos, Hercule embarcou em um navio para Antuérpia, onde procurou, mas não conseguiu emprego. Sem dinheiro, voltou para Mônaco a pé.

No final da viagem vendeu alguns desenhos. Como seu documento de identidade monegasco não era aceito em território francês, ele foi preso. Em 1923, aos 19 anos, Hercule partiu de Toulon a bordo da fragata de guerra Marie-Thérèse, mas o mar o castigou e ele pediu ao capitão para deixá-lo desembarcar no Rio de Janeiro, primeiro porto de atracação depois de Toulon. O capitão não só o deixou partir como mentiu no livro de bordo atribuindo o desembarque a doença, e na verdade lhe arrumou um emprego numa loja de tecidos. A seguir, da loja de tecidos passou a trabalhar numa tipografia, quando recebeu a notícia de que o Barão de Langsdorff, uma das grandes personalidades do século XIX, necessitava de um segundo desenhista para sua planejada expedição científica, que começaria pela rota das Monções que saíam de Porto Feliz (SP) em direção à foz do Amazonas, o mais portentoso de todos os rios do planeta. A expedição se iniciou em 1826 e sua história está contada neste livro. De volta ao Rio de Janeiro, Hercule entregou um manuscrito com o relato da viagem, que fica guardado durante muitos anos até ser encontrado pelo Visconde de Taunay, que o traduziu e publicou entre 1875 e 1876 na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, dando assim publicidade inédita à Expedição. Nas primeiras décadas do século XX, o Visconde de Taunay, então diretor do Museu Paulista, nomeou Hercule “Patriarca da Iconografia Paulista” e escolheu quase cem dos seus desenhos para serem reproduzidos por diferentes artistas, criando salas temáticas e grandes painéis sobre temas trabalhados por ele. Estes desenhos estão agora no novo Museu Paulista. Conheça esse livro. Ele nos leva ao tempo da Monarquia brasileira e nos faz pensar sobre o futuro do Brasil!