A partir de uma ampla pesquisa de textos e documentos de época a autora demonstra como as modificações urbanas ocorridas no Rio de Janeiro estavam inseridas em uma idéia de cidade fundamentada em concepções ligadas à Ilustração, movimento filosófico ocorrido na Europa no século XVIII, baseado no pensamento racional. No seu entendimento, as alterações no espaço urbano do Rio de Janeiro de então tentaram privilegiar três tópicos importantes: beleza, higiene e circulação, como uma tentativa de adequar o Rio de Janeiro ao modelo de civilização européia.

Para desenvolver essas idéias a autora analisou um intenso debate promovido na época em que os autores apresentavam alternativas para a resolução de alguns problemas da cidade, não mais compatíveis à condição de capital do Império português.

O livro examina ainda um órgão criado à época: a Intendência da Polícia da Corte e Estado do Brasil, que dentro de uma gama de atribuições, possuía também o objetivo de cuidar da urbanização da cidade. Seria através dessa instituição que ocorreria uma interferência do poder real para modificar a fisionomia colonial do Rio de Janeiro, de modo que atingisse em seu espaço físico, o status alcançado pela permanência do príncipe regente.

O livro apresenta uma excelente visão de como era realmente a cidade do Rio de Janeiro durante o período de permanência de d. João VI e sua real família. De leitura agradável, é um livro envolvente, pois ao mesmo tempo em que dá a idéia de que voltamos àquela época revivendo o cotidiano da cidade, também nos faz repensar questões que, passados mais de duzentos anos, ainda permeiam o nosso dia-a-dia, seja nos jornais, seja na televisão.