Cada livro de Geny Vilas Novas já de início nos traz duas camadas de leitura. A primeira é a do romance em si, como no caso deste belíssimo Um lugar muito distante, em que a autora narra sua infância no Sítio de Cima, em Minas Gerais, e sua relação com os animais, as plantas e com a família, trazendo cores e sabores quase proustianos nas viagens mais que literárias que espelham o sítio e a infância ao longo da vida. A segunda camada surge quando conhecemos melhor a obra de Geny e podemos ler também seus outros romances – é quando percebemos que cada livro é um pedaço de um mosaico mais amplo, uma nova peça no quebra-cabeça da vida, que se desvela desde os antepassados até os descendentes, sob o olhar arguto e sensível de uma escritora (e narradora, personagem) que se mostra por inteiro ao leitor, com suas lembranças, ideias, pensamentos e opiniões sempre muito verdadeiras, como quem nos conta alguns casos numa conversa na varanda ao fim de uma tarde chuvosa e nos cativa desde as primeiras frases, desde as primeiras linhas, com seu estilo e seu sotaque inconfundíveis, e nos leva junto pela jornada mais literária possível: a de uma vida bem vivida.