A Coleção L&PM Pocket lança Tratado sobre a tolerância, obra do filósofo iluminista Voltaire escrita em 1763. Baseada em um caso de execução por motivos religiosos ocorrido no ano anterior na cidade de Toulouse, na França, esse ensaio revela-se, dois séculos e meio depois, uma reflexão atualíssima sobre a precariedade do sistema judiciário, sobre a responsabilidade dos juízes e sobre os efeitos perversos que as leis podem ter.

O suplício, a tortura e a execução impostos ao comerciário protestante Jean Calas, acusado de assassinar seu filho por este desejar converter-se ao cristianismo, seriam apenas mais um absurdo produzido pela opinião pública preconceituosa – dirigida pelo fanatismo religioso e digerida pela sociedade – caso o grande Voltaire não se levantasse contra tudo e contra todos. Com uma ironia ferina e seu estilo inimitável, o filósofo faz um apelo em prol do respeito aos credos e à liberdade religiosa. A partir desta obra e da sua manifestação de repúdio e asco a esse tipo de violência, a justiça francesa foi acionada na tentativa de reabilitação de Calas. O caso ganhou proporções enormes, transformando-se numa triste metáfora dos conflitos religiosos que há séculos desenvolviam-se no país. Em 1765, devido à repercussão deste libelo, Jean Calas foi postumamente inocentado.

Tratado sobre a tolerância é uma obra extremamente oportuna nos dias de hoje, que trata, como Millôr Fernandes – esta espécie de Voltaire do século XXI – definiu, da “inviabilidade do ser humano”. Em pleno império do politicamente correto que, no seu exagero, cria uma espécie contemporânea de fascismo e intolerância; em plena época das proibições, quando o Estado se arvora o direito de legislar sobre todos os aspectos da vida do cidadão, e, em um momento dominado pela barbárie da intolerância ética, pela discriminação racial e pela restrição de acesso a países de primeiro mundo, este livro comprova a atualidade e a grande dimensão da obra de Voltaire.