Desde o fim da década de 1990, milhares de trabalhadores rurais dos campos, cidades e “pontas de rua” do Meio Norte intensificaram as suas idas e vindas para o labor nas lides agrícolas do Centro Sul do país, sobretudo nas atividades do corte manual de cana-de-açúcar no estado de São Paulo.  A partir de então, as referências aos migrantes de municípios do Maranhão e do Piauí passaram a compor a rotina de diversas regiões dependentes do agronegócio canavieiro, dentre elas, a de Ribeirão Preto, epicentro da produção sucroenergética nacional. Em municípios maranhenses e piauienses, as experiências migratórias dos trabalhadores rurais pelo estado de São Paulo também ressignificaram vidas e nutriram projetos e esperanças, nem sempre alcançadas. Este livro se apoia nos testemunhos de dezenas de trabalhadores rurais maranhenses e de seus familiares entre os municípios de Codó e Timbiras e as cidades de Guariba e Pradópolis no nordeste paulista ao longo dos anos 2000. As redes de relações pessoais, fundamentais para alavancar a experiência migratória, se costuram, se refiguram e se fortalecem a partir de múltiplas formas de trocas de informações entre os que migraram e os que não migraram, bem como entre os possíveis migrantes e os agentes responsáveis pelo processo de deslocamento e recrutamento até a área canavieira paulista. Compreende-se que há uma vinculação estreita entre o processo de construção de territórios de migração e a territorialidade experimentada na área de origem, sustentada por redes múltiplas de relações sociais que cimentam estas territorialidades, criadas e ressignificadas com a migração