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Veja se agrada: uma poeta que pensa bastante em psicanálise (Tamara Kamenszain) disse uma vez que, pra um outro poeta (caso dela), o corte brutal do açougueiro atravessava qualquer embrião de poesia. Essa interrupção rápida solicitava dele uma segunda urgência: a publicação. Era quase um quebra-cabeça: “Primero publicar, después escribir”. Entre cortes e suturas, quando importa menos o elogio da obra e mais a cooperação do inconsciente, a gente pode encontrar um convite para repensar nossas heranças. Alguém pode querer ler nesse livrinho, por exemplo, alguns ensinamentos da escola das facas, desviando as linhas bem estabelecidas do desenho coletivo (uma caneta de Estado, patrilinear) por outras geografias do desejo, mais abertas à espiritualidade. A infraestrutura dos poemas mói canaviais, tecnologias, capitanias, formações. Passa adiante, também, a transmissão de práticas rituais. E uma simpatia ao cerimonial: “A faca fica à direita”.
Agora outra leitura: os poemas aqui dentro colocam em cena – sem neurose – a dificuldade de expor um argumento, entendendo a conversa como uma partilha trágica, ameaçada sempre por outra tragédia maior: a tentativa de controlar os equívocos. A escuta que vinga é uma vingança da escuta. Mas sem imposição. O entendimento, muitas vezes, é confortável para x e incômodo para y. Pensar o convívio como dissonância, então, é pensar a afinação da matéria linguística, que é a matéria das relações todas, dos orgasmos e vínculos. Acho que essa Isabela que assina quer isso: um olhar diferente nos protocolos de comunicação e a possibilidade de fazer disso um assunto. Escrever o distanciamento, reinventar a proximidade. Participar e não participar de uma conversa. Participar e não participar de uma relação. Daria talvez uma hipótese de começo: participar do circuito da poesia (e especular com esse capital simbólico) é também investir num curto-circuito da participação. Atração e repulsa, investimento e desistência, fusão e fim. Na montagem dos modos à mesa, lembrar de temperar a avalanche discursiva que esquenta as nossas orelhas e ameaça derreter as suturas (precárias) da imaginação coletiva. Talvez sejam poemas contra a reprodução. Às vezes o poema te implica e você nem sabe. Não era uma chamada para submissão?
Vinícius Ximenes
Nome
TEM FACA DE GENTE NESSA CASA?
CodBarra
9786559000418
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
12/08/2021
Páginas
52
Peso
90,00
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