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A presença diante de um corpo outro, um corpo estranho, que invade subitamente a visão de alguém (um personagem, por exemplo), invade ou choca quem vê, abrindo a fórceps um espaço para que algo mude, seja no personagem ou no leitor. Na capa desta edição, um texto inédito de Flora Süssekind traz exemplos de alumbramentos que chocam: o corpo humano do conhecido poema de Bandeira, O bicho, ou a barata de A paixão segundo G.H., ou ainda o corpo morto de Diadorim, sujo e com seios à vista, que estremece todas as veredas percorridas no Grande Sertão. As epifanias negativas, reflexões que chegam para nos abalar, são o que podemos encontrar nas bombas reais que vemos hoje do lado de fora, nos confrontos com a polícia, espoliação da classe trabalhadora, negrocídio e afins.
O texto de Tatiana Pequeno sobre seu livro Onde estão as bombas faz uma reflexão próxima à de Flora por deixar claro que os potentes poemas foram criados para serem respirações compartilhadas. Respirações ofegantes de quem está sempre na mira do estado genocida, ou de quem é invadido pela dor do outro em situação de risco. Não está distante do livro de Luiz Antônio Simas, O corpo encantado das ruas, que mira o Brasil a partir das encruzilhadas e ensina que a gente brinca escondendo a dor. O texto de Isabel Lucas expande essa discussão ao enfatizar a força política do corpo nas ficções de Raduan Nassar, a partir de uma entrevista inédita com o autor.
Noutra via, os textos sobre Ocean Vuong e sobre a escrita de diários nas guerras mostram formas de existir pelas palavras contra a violência. No de Vuong, a violência surge numa visão que reconhece sua existência e influência, mas sem que o humano seja refém dela; no texto sobre diários, vemos as formas de se organizar subjetivamente em meio à tormenta e se projetar ao futuro.
A falência de uma perspectiva englobante ou total da existência, abordada no artigo sobre a máquina do mundo, não deixa de nos exortar à coragem. O declínio de utopias nos convida a criarmos o novo ou a, pelo menos, discuti-lo. A literatura é espaço para esses processos. Reflexões que nos exortam à convivência com o diferente e a escrever contra. Assim escolhemos nos preparar para 2020: estando ao lado das bombas.
Uma boa leitura a todas e todos!
Nome
SUPLEMENTO PERNAMBUCO # 166
CodBarra
977252701100500166
Segmento
Humanidades
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
06/12/2019
Páginas
32
Peso
135,00
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