O tema da traição amorosa (ou a suspeita de) é antigo: desde Otelo, de Shakespeare a Dom Casmurro, do nosso Machado, ele permeia a literatura e encanta os leitores. Por quê? Porque somos humanos, e o tema é universal.

Neste Sonata patética, novo romance do premiado Menalton Braff, o tema é revisitado pelo autor gaúcho, que constrói uma narrativa instigante, ágil, com capítulos curtos em que três vozes se alternam – os irmãos Marco Aurélio, Júlia e Augusto.

Marco Aurélio, o irmão mais velho, é médico. Sujeito ponderado, cumpridor dos deveres familiares e profissionais. Júlia, a irmã do meio, é dentista que cuida apenas de dentes infantis para dirimir sua maternidade frustrada. O caçula Augusto, seguindo os passos do patriarca, torna-se advogado brilhante, invejado pelos irmãos por ser o preferido dos genitores.

Os três conduzem a narrativa, cujo tempo alinear vai tecendo, aos poucos, seus diferentes caminhos e já prenuncia a chegada de uma tempestade que abala os alicerces das relações familiares.

O “pomo da discórdia” responde pelo nome de Olívia – mulher bonita e sedutora – que, sorrateiramente, entranha-se nas vidas de Marco Aurélio e Augusto, entornando um caldo de desejo, amor, traição e ódio.

Urdido em linguagem impecável, Sonata patética comprova a ideia de que o mais relevante num romance é seu discurso, o modo como o autor maneja as palavras a fim de criar a história. Esta história, cujo desfecho é surpreendente.