A busca ardente e coerente sobre a verdade de Deus, a centralidade da dor humana e a seriedade de sua vocação intelectual versus sua tendência kenótica. Esses três pontos são citados por padre José Ignácio González, no prefácio do recém-lançado livro Simone Weil e o encontro entre as culturas, como especialmente significativos na vida e obra da intelectual francesa, tanto para conhecê-la como para se debater com maior propriedade o tema do encontro entre as culturas.

Na obra de Paulinas e Editora PUC-Rio, especialistas brasileiros, americanos e europeus apresentam ensaios sobre Weil, resultado do último colóquio internacional realizado no Rio de Janeiro, em 2007, sob o tema que dá título à obra. Organizados pela teóloga e jornalista Maria Clara L. Bingemer, os textos dão uma ideia da força e da beleza do pensamento da intelectual, bem como permitem visualizar, com clareza, sua aplicação e atualidade.

Vastamente estudada na Europa, Estados Unidos e Japão, Simone, crítica e provocativa, produziu uma obra abertamente social e política, mas foi animada por uma paixão filosófica ímpar que desembocou em uma ardente experiência religiosa, confinando com a mística cristã de seus últimos anos de vida. Em tempos de dispersão existencial e ideológica, chamados de “pós-modernos”, a imersão no pensamento de Simone é sempre motivo de esperança, aquela virtude que ela própria amava como fundamento da coragem que sobrevive quando tudo em torno parece feito para esvaziá-la.

Simone falou das coisas terrenas a partir da dor e das vítimas da injustiça. Nasce daí sua célebre proposta, tão esquecida, de que era necessário completar a Declaração dos Direitos do Homem com mais um item: “Falar bem de Deus é falar de minhas obrigações com os seres humanos, e não só de meus direitos frente a eles, porque um direito ao que não lhe corresponde um dever se pode converter em uma desculpa para maltratar os outros.”