O mundo do futebol, com seus mitos, sempre foi tema de histórias que impregnaram o imaginá-rio popular como um espaço livre de criação de fantasias, que se sublimam como “verdade” ou tornam-se lendárias, cultuando a formação de uma galeria de heróis e anti-heróis. No fundo, são uma expressão alegórica das alegrias, frus-trações, dramas e espertezas do próprio povo brasileiro.

O folclore em torno das histórias de Mané Gar-rincha e outros tantos personagens míticos é uma prova desse processo que cria narrativas, expressando de forma lúdica, o brasileiro ideali-zado pela sabedoria popular. Como se de alguma
forma todos fôssemos Garrincha e Josimar, Pelé e Fio Maravilha, Leônidas da Silva e Beijoca; ou milhares de outros.

Num universo mitológico e paralelo da vida nacional, o futebol do passado consti-tuía um cenário de acolhimento de histórias e veneração de narrativas pitorescas, expondo nossas contradições sociais, sentimentos difusos, herança festiva e infor-mal, e o caráter lúdico e ingênuo, mas também preconceituoso, insensível e cruel.
“Seleção Brasileira de Histórias do Futebol (1930–1980)” procura retratar esse uni-verso especial do futebol do passado, entre os anos 1930, quando surge o profissio-nalismo, e o final dos anos 1970, quando começa a surgir a ideia do futebol-empresa.

Foi uma época em que o esporte passou a ser movido menos pela paixão e seus as-pectos lúdicos; e mais pelo interesse mercadológico dos clubes, que exigirá um ex-tremo cuidado com a imagem, perdendo de forma gradativa parte de sua emoção, romantismo e espontaneidade, dentro e fora das quatro linhas.
Marcelo Schwob