O alemão Bertolt Brecht foi um dos mais destacados escritores do século passado. Ao longo da vida, posicionou-se contra o nazismo, a favor do socialismo, mas antes de tudo francamente opositor ao autoritarismo e à opressão. Contudo, o principal motivo pelo qual seus escritos continuam despertando interesse e admiração está no fato de revelarem as profundezas da alma humana, muitas vezes por meio da ironia.

Nos seus últimos trinta anos de vida, ele dedicou-se à escrita de mais de uma centena de pequenos textos, entre os quais Se tubarões fossem homens. Nessa narrativa, o senhor Keuner é um misto de filósofo, professor e homem de ação, o que o faz ser considerado uma espécie de alterego do escritor alemão.

Brecht oferece aos leitores uma fábula moderna com pitadas de ironia e irreverência que os leva a pensar sobre a organização social do mundo, os valores éticos e as relações de poder. Para ele, pensar é um dos maiores prazeres do bicho-homem.

A pequena mas fértil narrativa é enriquecida pelas ilustrações do artista mineiro Nelson Cruz. Desde as primeiras páginas, revela-se aos leitores a total sintonia do ilustrador com o texto brechtiano: a descrição visual que beira a caricatura, a ameaça constante e agressiva dos dentes rangedores e cortantes e outros aspectos. Nas frestas de cores constantes brilham o luminoso vermelho, o vibrante amarelo, os coloridos resistentes. A página final multiplica as cores e sugere uma esperança de renovação.

No texto de apresentação, a atriz Denise Fraga, que participou da montagem de duas peças de Brecht, ressalta o quanto são provocativos os seus textos e convida os leitores a se deliciar com a leitura deste livro.