“Devemos tomar cuidado com os aproveitadores: existem pessoas que te fazem favores que você não pediu ou solicitou com o intuito de te pediu algo maior depois e o algo pedido pode ser abusivo. Darei um exemplo. Porque uma mulher quando sai, não deve aceitar que o homem pague sua parte nos restaurantes e ou bebidas, quando vai a uma boate? Porque a sociedade “concordou” que se o homem paga a conta, a mulher “contraiu” uma obrigação sexual, já que acreditamos que, por ele ter pagado, a mulher está mais disponível sexualmente a ele, pois ele fez um favor e ela deve retribuir. Essa e outras reflexões são feitas ao longo do livro com o objetivo de nos fazer pensar: pensar dói, mas melhora substancialmente nossas vidas. Pensar também é uma escolha, já que podemos simplesmente fugir de nossa mente. No entanto, fugir de nossa mente, é fugir de nossa própria vida.

O que é delírio? Segundo o dicionário Houaiss, delírio é uma perturbação mental que provoca alucinações; e, por extensão, sentimento de grande entusiasmo, exaltação. O que você lerá em Reflexões delirantes estará mais próximo dos sentimentos exultantes e entusiasmados do que de perturbações mentais. São textos viscerais, exclamatórios e com muita personalidade. Vão tocar suas feridas, te impulsionar a sair do lugar comum e a pensar, pensar muito sobre ações, escolhas e relacionamentos, seja ele consigo mesmo ou com o outro. Nesses textos, você conhecerá a escrita de uma mulher forte, destemida que não tem medo de dizer o que pensa e de pensar no que diz. Uma mulher que se coloca no mundo cotidianamente, à fórceps, como muitas de nós, e não tem medo de dizer a verdade quando afirma: “A sociedade tem ódio de mulheres que pensam, que são independentes, que escolhem não se casar, que não querem ter filhos, que não são monogâmicas, que estudam, que escolhem, que não se deixam calar, resumindo, têm ódio por todas que não se encaixam no padrão de submissão imposto, que seria o lar, o cuidar dos filhos e o lugar de não desejar ou ser desejada…”. Em seu segundo livro de crônicas, Patrícia mantém seu tom urgente e intenso, chamando o leitor a refletir sobre política, sociedade, amizade, feminismo, egoísmo e tantas outras questões que nos move como seres humanos. Somos capturados por suas palavras fortes, suas perguntas retóricas e terminamos os textos olhando além das páginas, para fora do mundo e dentro de nós mesmos.

Vanessa Reis da Silva