Reação em Cadeia é um grande jogo de palavras, que sutilmente vale-se da cultura pop para “puxar”a histórica e onde pontuando o humor dos encadeamentos em rima, freqüentemente um mesmo vocábulo, assume dois ou mais sentidos. Além disso o som final de cada estrofe abre sempre a subseqüente, o que denota que a estória em si, surge devido a isto, numa típica psicografagem, possibilitando desdobramentos dos mais inesperados

Em que pese o formato de poesia, a narrativa mais parece algo como “Rap op” (Rithm and Poetry on Prose), ritmo e poesia na prosa já que, além de sua principal característica, que é um experimento de diversão com a sonoridade das palavras, ou seja, com seu significante; estas palavras também adquirem (ainda que aparentemente em segundo plano) um significado inteligível, típico da prosa convencional mesmo quando tendente ao surreal.

Observa-se portanto técnica literária ambivalente, espécie de proesia experimentalista onde o inusitado permeria tanto a forma de dizer quanto o conteúdo (proezas), prenhe de duplo sentido e apelo inicialmente absurdo, mas sempre atinente ao final

Contando com amplo vocabulário, e pautado em rimas ricas muitas vezes sui generis (já que não se furta sequer de estrangeirismos globalizados), “Reação em Cadeia” pode, talvez por isto, provocar o leitor mais jovem a apurar conhecimentos sobre português, história, geo-política, ciências, religião e até psicologia, nunca entretanto em detrimento de uma tendência para a humanização (ou ridicularização) da lógica perversa do poder.

Este espírito “politicamente correto”, somado a seu caráter jovial, fazem com que “Reação em Cadeia” também possa ser recomendado acessoriamente no ensino, dadas as perspectivas de reforçar com bom humor, os temas mencionados acima.

Isto, naturalmente, além do grande público em geral, já que todo esse viés subliminar de aculturação, jamais tangencia enfado, pois tanto na Parte I, com o humor sutil surgindo a cada encadeamento; quanto na Parte II ante as ácidas reflexões sobre as mazelas dos “humanos” (aí sim, num tom mais poético); o leitor de qualquer idade poderá entreter-se do começo ao fim.

O fato é que tanto na comédia (Parte I) quanto na tragédia (Parte II), “Reação em Cadeia” chama atenção justamente por ser um livro despretensioso, cuja vocação original é capturar o leitor pelas cadeias “esculpidas” de sons gostosos de se ouvir e de se pronunciar; mas que acaba por constituir-se também num libelo à paz e à liberdade, frente às excrescências do mundo “civilizado”.