Utilizamos cookies para melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade..
Já na primeira metade do século passado, Mário de Andrade celebrava que os poetas posteriores ao Modernismo haviam conquistado o “direito de errar”, ou seja, a possibilidade de investigar novos caminhos, mesmo que acidentados, longe de segurança da tradição. Estar sujeito ao erro, longe de ser uma deficiência, é uma virtude do poeta, o que há de ter, décadas depois, inspirado Augusto de Campos, ao transpor seus poemas para o suporte musical, a acrescentar de maneira sintética, poesia é risco. Atento à polissemia dessa expressão, Pansani intitula seu novo livro justamente de Poesia é risco, o que não apenas nomeia um conjunto de poemas, mas insere seu autor nas fileiras dos poetas que desafiam a convencionalidade.
Ele próprio aponta o caminho ao sinalizar: “preto riscando o mundo branco: propondo uma coisa nova”. Aí está a síntese de sua poética, extrair novos poemas de poemas prévios. Trata-se de um procedimento conhecido como blackout, que consiste em ocultar partes de um texto, fazendo com que as palavras poupadas se destaquem e formem uma nova obra.
Se os primeiros exemplos de blackout esmiuçavam escritos do cotidiano, os de Pansani vão além, pois sua matéria prima são outros poemas, o que evidencia sua postura diante da poesia: “é o canto contra o canto que procuro”. E aí talvez esteja um toque sacrílego para uns, iconoclasta para outros.[...] Quando passamos pelos blackouts de Poesia é risco fica nítido que não estamos no plano da citação, mas sim no da colagem, na qual o original deve simplesmente desaparecer, e mesmo quando não desaparece completamente, seja porque o poeta empregou uma tinta com alguma transparência, seja porque o modelo é bastante conhecido, o que importa é a escolha, o corte, a rasura e a montagem; o que importa é o novo texto, o poema de sua autoria.
Essa operação posta em prática por Pansani, que consiste em apagar em parte o texto alheio e apropriar-se do restante (“por debaixo da roupa me habitam páginas de literatura alheia”), nos permite concluir que, enquanto nosso padrão habitual é escrever por adição, acrescentando palavras após palavra, a poética de Pansani se faz por subtração, pelo corte, pela exclusão. Como escrever se contrapõe a apagar, com Poesia é risco nos vemos diante de uma tinta secreta que talvez possa ser compreendida como uma poética negativa ou uma antipoética.
[Trechos do posfácio, de Paulo Ferraz]
Nome
POESIA E RISCO
CodBarra
9788593478222
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
01/08/2023
Páginas
192
Peso
384,00
Configurações de Cookies
Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Você pode escolher quais cookies deseja ativar.
Esses cookies são essenciais para o funcionamento do site e não podem ser desativados.
Esses cookies ajudam a melhorar o desempenho do site.
Esses cookies permitem que o site memorize suas preferências.
Esses cookies são usados para personalizar anúncios.