Apesar da lufada de ar mais leve que se respira no país, um acontecimento celebrado na capa e nos abraços improváveis em nossas páginas, a piauí deste mês não se esqueceu do abismo de que nos salvamos há pouco. Três peças sobre isso:

* O repórter Filipe Vilicic conta a trajetória extraordinária de Felipe Neto, que queria ser ator, virou um dos cinco maiores youtubers do mundo e, depois de anos espinafrando a esquerda, mudou seu leme ideológico, sofreu perseguições e ameaças de morte de bolsonaristas – e hoje é colaborador do governo Lula (Felipe Neto contra a cadela do fascismo).

* Ao lembrar que o reacionarismo continua à espreita, o professor de filosofia Vladimir Safatle especula que o Brasil pode estar servindo de tubo de ensaio para um experimento radical: a fase revolucionária da extrema direita (A insurreição).

* A enfermeira Eliane Clara Opoxina, natural de Minas Gerais, rememora o calvário que enfrenta há anos para trabalhar em defesa da saúde dos yanomamis em Roraima e como o governo passado ajudou a agravar a crise (Para que o céu não caia).

Além dessas reflexões políticas, a edição traz o seguinte:

* Camille Lichotti narra como se espalha a síndrome de burnout no Brasil, que, de acordo com algumas estatísticas, já é o segundo país mais afetado pela doença do trabalho, depois do Japão (A nova neurastenia).

* Juliana Faddul mostra como o Pará, onde mais se produz energia no país, é também onde há mais gente vivendo à base de lamparinas (Um estado às escuras).

* João Batista Jr. reconstitui a carreira de três décadas de Taís Araujo e revela como a atriz enfrentou o racismo na teledramaturgia, nas revistas femininas e na publicidade (A imparável).

* Em ensaio sobre Tite e Neymar, Leonardo Villa-Forte discorre sobre como técnico e jogador exerceram papéis distintos num Brasil fraturado – e o que podemos esperar do craque no futuro (Ousadia sem alegria).

* Stephen Witt, em texto originalmente publicado na revista The New Yorker, descreve a corrida para criar o computador quântico e o impacto – monumental – que essa tecnologia terá em nossas vidas (O futuro de tudo).

* Christian Cravo apresenta um portfólio com imagens de montanhas de roupas e acessórios que são descartadas no Deserto de Atacama (Lixão fashion).

Na literatura, a edição traz os poemas de Thiago Cervan (Autodidata) e o capítulo inicial de Salvar o Fogo, o novo romance de Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado (O olho de fogo).

E temos The piauí Herald, que saiu desta vez em versão FARDAS, mostrando que, mesmo perdendo o poder, os militares não perdem a festa.

Boa leitura,

André Petry
Diretor de redação