Neste mês em que a piauí comemora seu 16º ano de vida e o país vive sob a atmosfera da mais decisiva eleição presidencial da nossa era democrática, trazemos três peças – sobre o passado, o presente e o futuro.

Sobre o passado: Glenda Mezarobba, cientista política com formação em jornalismo, apresenta um relato assustador ao mostrar como um grupo de militares prendeu, torturou e assassinou colegas de quartel em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. O processo, que correu no âmbito da Justiça Militar, tem enorme valor histórico: é uma prova, produzida pelos próprios militares, de que a tortura foi praticada nas instalações do Exército na ditadura (O crime do século).
Sobre o presente: Thais Bilenky faz um perfil de Rosângela Silva, a Janja, mulher de Lula que ganhou projeção na campanha do ex-presidente (Com vocês, a Leoa).

Sobre o futuro: no terceiro artigo da série analítica sobre as eleições, o cientista político Miguel Lago discorre a respeito do destino de Jair Bolsonaro e seu movimento – com vitória ou derrota na eleição (A insurreição permanente).

Fora da política, a edição traz duas reportagens na área da saúde. João Batista Jr. conta como a dependência do consumo de opioides, fármacos altamente potentes e viciantes, está se disseminando entre médicos, sobretudo anestesistas (O drama dos opioides). Angélica Santa Cruz conta a história dos alimentos ultraprocessados, classificação criada por um brasileiro, Carlos Monteiro, que ganhou o mundo e até hoje tira a paciência da indústria do setor (O revolucionário).

A piauí também volta a atenção para o mundo. Em Santiago do Chile, Fernando de Barros e Silva testemunhou a derrota histórica da esquerda na votação do plebiscito que enterraria a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (A ressaca). De Florença, o escritor Antonio Scurati, autor de M, o Filho do Século, excepcional biografia de Benito Mussolini, escreve, em texto exclusivo para a revista, sobre sua incredulidade com a vitória nas urnas dos Fratelli d’Italia, o partido de inclinação fascista (Queremos mesmo isso?). De Kiev, Jonathan Littell, em texto originalmente publicado no Le Monde, faz um relato abrangente sobre os efeitos da guerra na Ucrânia (Um lugar no mundo). E, por fim, Damian Platt, de Londres, conta como os ingleses reagiram à morte de sua monarca aos 96 anos (Flores para Elizabeth).

Dando sequência ao projeto Querino, que revê o passado brasileiro sob um ponto de vista afrocentrado, a edição traz uma história em quadrinhos, com arte de Bennê Oliveira e roteiro de Jeferson de Sousa, sobre a trajetória de uma figura fascinante e pouco conhecida: Rosa Egipcíaca (A santa feminista). Acompanha a HQ um portfólio de Rodrigo Zaim, retratando rituais de um terreiro de candomblé (A festa de Olubajé).

Clara Rellstab e Fernanda Santana fazem um perfil do escritor Itamar Vieira Junior, contando sua trajetória de servidor público do Incra até o fenômeno literário Torto Arado (“Trabalhar é tá na luta”).

Também trazemos um trecho do livro Sonhei com o Anjo da Guarda o Resto da Noite, de Ricardo Aleixo (O anjo da guarda), um depoimento ficcional de Thiago Camelo extraído do livro Dia Um (Acidentes), três poemas de Moisés Alves (Mãe) e um texto de Rubens Valente, relatando a morte do “índio do buraco”, o último representante de uma etnia indígena (Isolado até o fim).
Como cereja do bolo, confira os 22 cartuns de Adão Iturrusgarai, Allan Sieber, André Dahmer, Andrício de Souza, Caco Galhardo, Carol Ito, Cynthia Bonacossa, Leandro Assis, Reinaldo Figueiredo, Renato Terra e Roberto Negreiros –
todos celebrando os 16 anos da piauí.

Boa leitura!
André Petry
Diretor de redação