Nesta edição, a piauí traz duplas de reportagens e artigos que, embora diversos, acabam por se completar:

* Sobre meio ambiente, a revista publica duas matérias relevantes. A primeira faz um inventário minucioso e revelador das ideias de Evaristo de Miranda, o ideólogo da política ambiental do governo de Jair Bolsonaro (O fabulador oculto, de Bernardo Esteves). A segunda é a penúltima parte da série Arrabalde, que narra a história de três personagens singulares – uma indígena do povo Kaxuyana, um missionário alemão que virou antropólogo e um agricultor de origem japonesa – que escolheram retornar à floresta (O reencontro, de João Moreira Salles).

* No campo das ideias, a edição apresenta dois artigos. Um deles mostra que a extrema direita, ao propalar seu negacionismo em múltiplos domínios, atende a uma necessidade real do eleitorado, um dado que a esquerda subestima (O presente de uma ilusão, de Rodrigo Nunes). O outro é uma réplica ao artigo publicado em nossa edição de janeiro em que Benamê Kamu Almudras, um pseudônimo, denuncia o comportamento neoliberal de alunos da universidade pública que, no entanto, se consideram progressistas. A réplica afirma que o texto de Almudras é uma visão atrasada da universidade na medida em que se coloca contra a democratização do acesso ao ensino superior e a política de cotas (Uma visão nebulosa e conservadora, de Demétrio Toledo e mais três autores).

* Em relação à vida dos mais pobres, fazemos dois mergulhos de alta voltagem. Um é o relato comovente do cotidiano daqueles brasileiros que voltaram a enfrentar a ameaça da fome (Prato vazio, de Tiago Coelho). O outro conta a saga do obstetra que lidera a equipe que interrompeu a gravidez de uma menina de 10 anos estuprada pelo padrasto, o que provocou – o aborto, não o estupro – protestos barulhentos de religiosos conservadores (“A gente acolhe”, de Angélica Santa Cruz).

Completando a edição, além das seções fixas e duas deliciosas páginas de The piauí Herald, a edição traz um trecho eletrizante do livro Cabeça Branca, que trata da operação de captura do maior traficante do Brasil (O fantasma, de Allan de Abreu) e uma reportagem que descreve, sem meias-palavras, como as mulheres – autoras e leitoras – abraçaram de vez a literatura erótica no Brasil (Putaria com final feliz, de Bruna Maia).

Divirta-se e boa leitura!
André Petry
Diretor de redação