Imagine-se como uma jovem que, com os pés nus, caminha pelas areias de uma praia qualquer. De repente, seus dedos desvendam uma pequena caixinha de madeira. Ela é antiga, algas vivem ali há anos, algumas conchinhas estão presas ao visgo de sal e água que prendem mil e uma estrelas do mar. Quem sabe quantas tranças de sereias tais estrelas já ornamentaram? Eis o deslumbre: Esta constelação de versos orgânicos e marinhos, versos que fundam o encanto do detalhe. Quando abrimos a singela caixa, alguns fios de cabelo jazem ali, pétalas de rosas do século passado, e o perfume que só a penteadeira do espelho das águas é capaz de conservar.

A poesia da Mari dança como a água para evocar sons, cheiros e imagens que quase conseguimos tocar, de tão corpóreos que se tornam na meia-luz dos espaços e silêncios. Seus ecos têm fases e cada leitura é uma face da Lua que se deixa mostrar ou não. Por isso, quem segurar nas mãos esse livro, que o carregue como se toca o orvalho e tenha nas mãos a umidade da natureza que escorreu por entre os dedos. Tu que desfolharás as páginas, toque-as com a delicadeza de quem descobrirá o caminho entre a borda da saia de papel e o ventre das palavras. A poesia da Mari é essencialmente feminina, e já não se sabe quem veio antes, se foi o poema ou se foi a mulher.

Karina Vilara