A coreografia da beleza tem passos sincronizados com o espírito do tempo. Aquele delineado inesquecível, a dieta que todo o mundo seguiu, o corpo violão, o visual andrógino, a cor de cabelo em alta. Os movimentos vêm e vão mundo afora e, nas últimas décadas, ecoaram no Brasil com ginga particular. Importações de tendências, impostas pelo cinema, pela moda e pela música, e o desejo de pertencimento, muitas vezes, impossível de ser alcançado, fazem parte desses vestígios. Além do que vem de fora, aqui, do lado de baixo do Equador, a beleza tem traços próprios. E é sobre essas pegadas que este livro se debruça. Resgatamos fotos, propagandas, modinhas, manias, modos, tratamentos e até nomes de esmalte, por que não? que flertam com a nossa memória afetiva.

O Pequeno almanaque da beleza traz à tona cores, nomes, aromas, tratamentos, musas, produtos, marcas e cosméticos que contam subliminarmente pedaços da nossa história, das nossas inclinações e preferências. Também são um retrato sem filtro de como a imposição de padrões estéticos pode ser perversa e da necessidade de discutirmos o que, antigamente, era apenas acatado.

Enfeitar-se, maquiar-se, emagrecer, engordar, rejuvenescer, bronzear-se, proteger, pintar, definir, tornear: verbos que dançam conforme a música, mas que precisam estar cada vez mais à disposição da liberdade de ser quem a gente é.

O nosso “Almanaque” é uma pequena contribuição literária para manter viva a nossa memória estética. Os cem verbetes foram elencados a partir da memória afetiva, daquilo que caiu nas graças das brasileiras, do que foi sucesso de venda, mania de consumo, referência de uma época, aprisionamento de outra.
Ao resgatar fragmentos do passado, nos apropriamos das conquistas do presente com olhos bem abertos para o futuro. Que seja livre.