Catiane Pimentel, escritora jovem e arguta, leitora voraz e incomum, escolheu um de seus livros prediletos da obra do memorialista Pedro Nava, Balão Cativo, (segundo volume das memórias do escritor), que trata da passagem da infância para a adolescência e dá conta de como o memorialista fez-se um devorador de livros antes de consagrar-se por sua arte multifacetada de elaboração da escrita. Certa de que a escrita verbal oferece muito mais possibilidades que a simples compreensão de seu tema, a autora lançou mão dos apoios teóricos de Paul Zunthor, Susan Sontag e especialmente H. U. Gumbrecht, estudiosos que procuraram deslocar a atenção convencional do sentido do texto para seus efeitos de materialidade, capazes de aguçar percepções e desencadear afetos.

Este é um caminho produtivo para escapar à impressão atual de que os jovens não lêem e apontar, nas experiências com as diversas linguagens dos hipertextos e nos intercâmbios interativos abertos pela tecnologia, a oportunidade de apreciar as escritas através de seus muitos apelos às percepções, à inteligência e à sensibilidade. Assim se podem captar as impressões daquele mundo criado pelas palavras, numa aproximação entre as vivências arcaicas da oralidade e as experimentações virtuais da mídia digital. Esta confluência instigante é o que Catiane busca para, através do registro de sua leitura sensível de um livro de memórias, descortinar o horizonte amplo dos jovens leitores deste século, para incentivar o abandono da leitura passiva convencional em prol do empreendimento de uma viagem sensório-crítica na qual o leitor se permite mergulhar no texto e descobrir o fascínio de viver um tempo fora do seu.

Leitura obrigatória para os amantes das letras.