Partilha é fruto de seis anos de intensa experimentação poética. Seu caráter singular parece insistir em que nada possa ou deva ser dito sobre si, restando tão somente o rigor e a urgência vital das inebriantes variações de tom que, de uma linha a outra — vocação poética, amor e mística visionária —, lançam o leitor num mundo obscuro de impulsos.

Os conjuntos de poemas que materializam as linhas compondo o livro, sabiamente seletivos em seus detalhes materiais, erguem-se como monumentos à experimentação cuja densidade é aquela de toda uma vida contraída nos ritmos do pensamento e da sensação. Assim é que cada linha se move numa intensidade, cuja variação desenha as flutuações que passam de uma a outra determinando séries de imagens sem começo nem fim. Percorrê-las exige do leitor o abandono do conforto das designações quotidianas para tornar-se cúmplice no engendramento da vocação poética, acompanhando-a em suas secretas agitações amorosas, abandonando-se às mutações visionárias que experimenta, deixando-se enlaçar pela precisão rítmica até a dissolução última do corpo próprio no corpo poético.

Partilha, mais do que leitores, exige amantes, reivindica amigos assinalando, na radicalidade da experimentação proposta por Gabriel R. Kolyniak, o nascimento tão esperado de uma nova geração de poetas.