A arte ensaística da especulação sem limites, mesclando o depoimento pessoal com a abordagem crítica, se estende por todos os textos da autora de Minha Antônia reunidos nesse volume. Publicados originalmente em 1936, para uma leitora brasileira, Lucia Miguel Pereira, contemporânea da norte-americana nos esforços de reconhecimento da profissionalização da mulher dedicada ao ofício da literatura, revelam uma “escritora que fez da vida uma experiência intelectual”.

Os ensaios e perfis de Para maiores de quarenta testemunham o ambiente intelectual do início do século XX que acolheu os nomes tornados icônicos da arte moderna: a cena pode se descortinar à noite, quando acompanhamos o diálogo entre a jovem Willa e Stephen Crane diante da janela que recolhe as luzes urbanas para o interior da redação do jornal Nebraska State Journal. Ou na casa habitada pelas memórias da viúva de James T. Fields, editor da Ticknor&Fields, responsável por tirar do anonimato as obras de Henry James, Mark Twain, Nathaniel Hawthorne, Sarah Orne Jewett, entre tantos outros – “a lista parece coisa de manual escolar”, reconhece a escritora.
Em comum, os textos não se valem dos aparatos e do sistema de referências das análises germinados no ambiente acadêmico. Antes, trazem - pela primeira vez em língua portuguesa - sua pesquisa, com Edith Wharton, Dorothy Parker ou Sylvia Plath, da dicção feminina na expressão da cultura ianque.