A editora Sempiterno apresenta Outras Paragens, livro de Filipe Moreau que narra a história de uma família nordestina em época que vai da segunda metade do século XVIII ao início do XX, passando-se nos arredores de uma cidadezinha baiana chamada Vila da Barra, às margens do rio São Francisco. E como se vê pela escolha das imagens de ilustração (as belas fotografias de Dimitri Lee, Yves Ribeiro, Anna Mariani, Daniel Roland e do próprio autor, mais os delicados desenhos de Gabriela Brioschi), não há propriamente uma geografia física, embora se tenha como cenário explícito o grande sertão baiano: tudo se passa em um mundo de sonhos, de ilusões perdidas, de uma existência imaginária e abstrata, quase invisível, e irreversível.

Mesmo que pautado em fatos históricos – a pesquisa de Maria Laura para o livro Ser tão antigo (Rio de Janeiro: GF design, 2003) – Outras Paragens é uma obra de imaginação e lirismo. O acréscimo de trechos puramente poéticos (exercendo-se ao máximo a “liberdade” que esse termo traz) é talvez a sua maior graça, e onde reside a grande originalidade do romance. E embora fale do passado, há sempre um diálogo com o presente, com a cultura contemporânea, científica e artística, disfarçado de anacronismo. Nesta história consegue-se imaginar uma convivência entre todos eles, seguindo uma cronologia geral e trazendo pensamentos que seriam complementares entre personagens de gerações e épocas distintas. Tudo entremeado de reflexões como: Vai, rio, vai levando os seus milhares (até bilhares) de moléculas d’ água, que se um dia passarão por aqui outra vez – quem há de saber? – levará mais de um milhão de anos até que sejam as mesmas, e mais outro milhão até que este homem seja o mesmo a contemplá-las...