O que se esconde debaixo do mar? O que se esconde debaixo do sono? Será que um mergulho pelos segredos das águas ocultas, no fundo, é um mergulho pelos desvãos insólitos dos sonhos? Pois é assim, na interseção entre o onírico e o aquático, que Luiz Silva apresenta a extraordinária viagem de Allan. Numa noite de lua cheia e de cesta cheia de peixes, o mundo de repente se enleva em surpresas. Animais aquáticos e aves misteriosas, chaves e redemoinhos. A linha que guia a pesca dirige, também, o desdobrar sinuoso do inconsciente — com seu emaranhado desconcertante, inesgotável.

Pois é assim, entre a linha e o emaranhado, que se constrói a história de Os estranhos sonhos de Allan. Não há palavras por aqui. Mas, em total silêncio — como na brutal realidade dos sonhos —, emergem imagens que se desdobram em atmosferas vertiginosas. Desenhos com um quê expressionista para ilustrar os tons surreais, exuberantes, daquilo que agita o fundo da mente.

E, assim, o leitor é convidado a experimentar sensações que, em contato com o universo pessoal de cada um — as sombras surpreendentes que invadem o sono —, desenham múltiplas histórias. Narrativas diferentes para cada imaginação. Ondas repletas de suspense, memórias, descobertas. Tramas que redesenham, página a página, o poder abissal da arte e dos livros.