Convidado para lhes fazer uma conferência, escolhi um tema cuja importância não há necessidade de evidenciar, por sua oportunidade. Falaremos sobre problemas constitucionais, isto é, sobre O que é uma Constituição.

Primeiramente, antes de adentrarmos a matéria, desejo esclarecer que a minha palestra terá um caráter estritamente científico, mas, apesar disso, ou melhor, justamente por isso, não haverá dentre vós uma só pessoa que, por falta de compreensão, deixe de acompanhar o que vou expor, do início ao fim.

A verdadeira ciência – nunca é demais lembrar –compreende apenas uma clareza de pensamentos que, sem excluir a suposição das coisas preestabelecidas, vai dimanando de si mesma, passo a passo, todas as sua consequências, impondo-se, por meio da força coercitiva da inteligência, àqueles que acompanham atentamente o seu desenvolvimento.

Tal clareza de pensamentos não requer, portanto, daqueles que ouvem, conhecimentos especiais. Ao contrário, não sendo necessários, como disse, não precisa deles para esclarecer fundamentos, aliás, não só não precisa deles como também não os tolera.

Tolera-os, porém, somente, exigindo uma única coisa: que os quem me lerem ou me ouvirem não tragam consigo suposições prévias de nenhuma espécie, nem idéias próprias, mas que estejam dispostos a se colocarem ao nível do meu tema, mesmo já tendo falado ou discutido sobre ele, portando-se como se pela primeira vez o estivessem estudando e nada soubessem sobre ele, despojando-se, portanto, pelo menos enquanto durar nossa investigação, de tudo quanto a seu respeito já tenham por assentado.