Escrito às pressas em 1938 por um jovem de 23 anos, o manuscrito de O passageiro foi redescoberto apenas em 2017, quando foi publicado na Alemanha. O livro tornou-se um fenômeno literário em toda a Europa por detalhar, em uma prosa vívida e intensa, a maneira como o fascismo se entranha pouco a pouco até dominar todas as instâncias da vida cotidiana. No romance, acompanhamos a saga kafkiana de Otto Silbermann, um negociante judeu de aparência ariana, que tenta de diferentes maneiras escapar deste pesadelo.

O estilo de thriller envolve o leitor desde o primeiro capítulo, quando o protagonista é forçado a deixar o apartamento onde vive. A partir daí, tudo em sua vida – do trabalho às amizades – é usurpado, e ele se torna um mero passageiro anônimo, carregando todos os pertences em uma mala, e transitando de uma cidade a outra enquanto tenta preservar um mínimo de dignidade e fé no ser humano. “Não é tão ruim assim”, costuma se repetir, “ainda estou vivo, estou vivo – apesar de tudo.”

A riqueza dos detalhes e a precisão do ponto de vista de Otto Silbermann colocam o leitor de O passageiro no olho do furacão, transmitindo a sensação apavorante de impotência e perplexidade. Afinal, Otto se pergunta, “quem poderia ter imaginado isso? Algo assim? No meio da Europa – no meio do século XX!” São ecos do trauma do próprio autor, que testemunhou com espanto a Noite dos Cristais, desvelando a barbárie por trás da fachada da civilização europeia.

Desde sua publicação em 2017, o livro ganhou centenas de milhares de entusiastas que encontram nas palavras de Boschwitz uma profunda humanidade e um sinal de alerta para a disseminação insidiosa de ideários racistas e violentos.