O ladrão e os cães é, a um só tempo, um thriller e uma análise ética do mundo. Said é um Robin Hood egípcio cujos furtos são motivados por poderosos princípios igualitários, bem como por rancor social. Recém libertado da prisão, ele tem à frente o desafio de começar do zero e reconquistar sua filha. Mas a rejeição da filha e a sede de vingança por aqueles que o traíram levam-no às profundezas da vida no Cairo, durante os primeiros anos do movimento que culminou na Revolução republicana de 1952.

Publicado em 1961, O ladrão e os cães marca uma ruptura em relação à obra prévia do autor. Trata-se de um romance psicológico, mais impressionista que realista, cujo personagem principal lembra, às vezes, o Raskolnikov dostoievskiano. Por meio do estilo pungente de Mahfuz – a maior expressão literária em língua árabe da modernidade –, o leitor se vê no lugar de Said e, em meio ao desespero e à decepção, compreende a estrutura e as engrenagens da sociedade egípcia, uma das nações que mais enfrentou turbulências durante o século XX.