Inédito no Brasil, "O Incesto Real" é o segundo livro de Júlio de Almeida - conhecido em Angola, onde mora, como Comandante Juju por sua dedicação à vida pública, encerrada em 2003. Pai do também escritor Ondjaki, ele está com 82 anos e se baseou em fatos reais para dar corpo à sua imaginação. Mais do que um romance já muito discutido em Angola e Portugal, o livro se mostra como um ensaio sobre as origens de Angola.

"A gênese deste livro foi motivada por duas vertentes: a África ser o berço da humanidade, o que nos tornaria primos uns dos outros, com um antepassado em comum: a Lucie, nascida há 3,2 milhões de anos; e o demasiado desconhecimento que as atuais gerações têm da sua própria história. Fala-se erradamente em 500 anos de colonialismo, como se as relações entre Angola e Portugal fossem lineares e iguais", explica o autor.

Neste livro, que sucede "Vaicomdeus, SARL" (2002), Júlio de Almeida imprime mais uma vez o seu olhar satírico e despretensioso. "O Incesto Real" traz fragmentos de tramas dentro do grande enredo e apresenta um longo afluente do que também foi (ou teria sido) a biografia coletiva do seu povo. As margens da vida misturam-se como se fossem rios, com os seus muitos nascimentos e mortes, de modo que o destino e o tempo possam separar ou aproximar os habitantes dos quatro pontos cardeais do planeta.

Cruzando séculos, narradores e uma vasta rede de possibilidades, Júlio de Almeida joga com os laços e as armadilhas da vida para nos oferecer uma outra leitura de uma certa Angola. O autor temperou episódios que realmente ocorreram em seu país com boas doses de invenção. "Os fatos são históricos, mas os percursos dos personagens são a minha ficção", esclarece o pai de Ondjaki, também autor da Pallas Editora e já muito conhecido pelos leitores brasileiros.