Privada do sentido metafísico, encerrada no mistério e no sobrenatural, ela [a civilização] não pode senão deixar-se conduzir pela “vontade de poder”, ora exaltada por ambições ilimitadas, ora enlouquecida pelo pavor. Se a humanidade quer sobreviver, deve tornar a conhecer o homem, voltar ao sentido do humano, porque o homem, em breve, não saberá mais o que é o homem. Entregue à embriaguez das técnicas, arrancado da proteção das comunidades naturais que humanizam sua relação com o mundo, saturado de abstrações inconsistentes, devorado pela agitação e o fragor, causticado por propagandas que lhe não deixam repouso, aterrado pela solidão propícia à reflexão na qual o indivíduo, que é o único a existir, toma de novo posse de si mesmo e confronta sua vida com o seu destino espiritual, procurando, enfim, um álibi nas pseudomísticas da evasão, do progresso, da história (sem mesmo se preocupar em pô-las de acordo), o homem contemporâneo não vive mais segundo suas próprias medidas e sua verdade, mas é vivido e impulsionado pela mecânica implacável que forjou com as próprias mãos e sobre a qual já não mais domina, perdendo, ao mesmo tempo, o sentido e os valores humanos e de sua hierarquia.