Neste belo livro, há muitos encontros. História e Literatura. Dizem alguns que a História- a disciplina- já nasceu desconfiando de tudo que não se via, apegando-se, a partir disso, á ideia de verdade. Vieram, então, as provas documentais, a marca da objetividade, mas deixando escapar muito do que também compõe a experiência humana: a paixão, a sensibilidade, o inesperado, o choro e a poesia. Para lidar com tudo isso, insistem alguns historiados, existe a Literatura. Em O Borbulhar do Gênio, Saulo Dourado passa longe- para o nosso bem- dessas separações para trabalhar com uniões. E disso promove um incrível encontro de duas personagens históricas muito singulares. Ruy Barbosa e Castro Alves. Duas figuras aparentemente solenes e graves, mas que ganham, na prosa elegantemente bem-humorada do autor, toda a incerteza, a dúvida, as dores de amor e a competição. E assim vão, nesse embalo, o orador e o poeta, encontrando-se por várias cidades brasileiras do século XIX, reconstruídas com um esmero impecável. Eles voltam, aqui, a ser humanos.

(Daniel Rebouças)