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Tido pela revista Time como um dos 100 melhores livros de literatura fantástica de todos os tempos, O bebedor de vinho de palma e seu finado fazedor de vinho na Cidade dos Mortos foi o primeiro romance africano escrito em inglês publicado fora da África. Lançado no Reino Unido em 1952, seis anos antes de sair no seu país de origem, o livro de Amos Tutuola (1920-1997) ganhou ampla repercussão internacional. Para Chinua Achebe, o livro “abriu as comportas para a escrita moderna da África Ocidental”.
Profundamente enraizado na tradição oral iorubá, O bebedor de vinho de palma leva o leitor por uma jornada plena de maravilhamento e mágica, na qual o personagem caminha de mata em mata, parando em vilarejos e às margens de rios, onde encontra todo tipo de obstáculos e criaturas.
O herói sem nome – como todos os personagens da história – se identifica como “Pai dos Deuses Que Podia Fazer de Tudo Nesse Mundo”. Ele leva uma vida de ócio e devaneio bebendo vinho de palma, uma bebida alcóolica fermentada a partir da seiva de várias espécies de palmeira, cercado de amigos igualmente bebedores. Até que seu fazedor de vinho, o único que exerce bem o ofício na região, morre numa queda. Isso obriga o herói a ir buscá-lo na Cidade dos Mortos.
Das névoas em que vive, ele cai num mundo “real”, mas não no sentido que damos à palavra em nosso mundo moderno e racional. “O ‘real’, em Tutuola, é tudo o que é vivo e se transforma, é tudo que encanta e pode ser encantado, é tudo que é invisível e insondado”, escreve no posfácio Fernanda Silva e Sousa, também responsável pela tradução da obra.
Se a fábula nigeriana guarda alguma semelhança com Macunaíma, de Mário de Andrade, o personagem de O bebedor do vinho de palma não é, contudo, “um herói sem nenhum caráter”, mas um ser com poderes sobrenaturais, como o de transformar-se em animais e até virar ar. Esses poderes lhe são conferidos por jujus, objetos mágicos que não podem ser usados em qualquer circunstância. É assim que o herói, originalmente altivo, indolente e presunçoso, precisa agir com astúcia num mundo desconhecido.
Em seu caminho, ele depara com criaturas às vezes doces, às vezes monstruosas e ocasionalmente com as duas qualidades simultaneamente. São espíritos, seres da mata, da água e da montanha. Depois de encontrar-se com a Morte e tirá-la de sua casa, o herói cruza o caminho de um “cavalheiro completo” que, mesmo devolvendo suas partes, segue existindo como um Crânio.
Uma jovem acompanha a criatura e vem a se tornar esposa do herói. De seu polegar nasce um bebê diabólico que é eliminado depois de queimar uma cidade inteira. Pouco depois, aparecem pela primeira vez na jornada três seres, o Tambor, a Canção e a Dança, com poderes regenerativos. Pouco depois, surge a Risada, que traz tanto alegria quanto contaminação. Essa cosmogonia de seres maravilhosos convive com signos do mundo moderno, como telefone, ferrovia, hospitais, revólver e campos de futebol, além de um cenário de cassino dentro de uma árvore.
Seguindo a caminhada, desfilam seres ameaçadores como uma criatura branca, sem pés nem mãos e um grande olho no lugar da cabeça; um bicho terrível com quatro cabeças e cinco chifres; um Espírito de Rapina que parece um hipopótamo sobre duas pernas; um rei vermelho, soberano de uma floresta da mesma cor, que também tinge os seres que nela vivem; o Dá-e-Tira, superpoderoso mas disposto a ser um servo invisível; e uma Mãe-Fiel, provedora de todos os cuidados.
Muitas dessas criaturas, e outras, impõem desafios ou torturas ao casal de peregrinos. O herói tenta evitar o sofrimento, embora não corra o risco de morrer, pois vendeu sua morte. Em seu périplo, alterna riqueza e fome, enquanto sua esposa ganha sabedoria e passa a orientá-lo.
Publicada pela conceituada editora Faber & Faber em 1952, por indicação de T.S. Eliot, a edição no exterior teve recepção extremamente positiva. Entre seus admiradores estavam o poeta inglês Dylan Thomas, que num texto sobre o livro qualificou-o de “breve, movimentado, assombroso e sedutor”, e o célebre escritor Raymond Queneau que, de tão entusiasmado com o texto, traduziu a obra para o francês. Na Nigéria, porém, as reações foram mais divididas. Muitos se incomodaram com fato de o autor escrever em pidgin, ou seja, o inglês como efetivamente era falado na Nigéria, misturado ao iorubá e sobretudo na cadência da tradição oral, com suas típicas repetições. Para esses críticos – membros da elite nigeriana, como explica Chinua Achebe em ensaio em defesa do livro –, a obra acabava por apresentar uma África caricatural, exótica, passando a imagem de certo “primitivismo”.
O interesse atual pelo livro, traduzido e republicado em dezenas de países, demonstra, ao contrário, a valorização desse pioneirismo de Tutuola, ao mesclar habilmente tradição e modernidade criando um efeito estilístico que, se causa certo estranhamento de início, logo envolve o leitor em sua trama. Do ponto de vista da antropologia social, como ressalta o professor Francis B. Nyamnjoh, da Universidade de Cape Town, ao manter vivas e relevantes os saberes e formas de produção de conhecimento africanos, a obra de Tutuola contribui para “repelir a dimensão única do resiliente colonialismo”.
Nome
O BEBEDOR DE VINHO DE PALMA E SEU FINADO FAZEDOR DE VINHO NA CIDADE DOS MORTOS
CodBarra
9786554610681
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Capa dura
Idioma
Português
Data Lançamento
10/06/2024
Páginas
144
Peso
240,00
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