Não é novidade para a literatura brasileira tratar das profundas desigualdades sociais do país, e, consequentemente, do impacto causado pelas mudanças de status – seja do homem que migra do campo para a cidade ou do sujeito de vida modesta que passa a frequentar a alta sociedade, e vice-versa. Pouco ou quase nenhum espaço, entretanto, foi dedicado aos conflitos íntimos gerados pela mobilidade social nas últimas décadas, envolvendo tanto os chamados “emergentes dos anos 1990” quanto os que empreendem esforço pessoal de ascensão por meio da formação superior. Este é o tema central de Náufragos Emergentes – seis histórias ordinárias.

Com 50 ilustrações do artista plástico Ulysses Bôscolo e é o quinto título de Leusa Araujo. Os anteriores, dedicados ao público juvenil, receberam indicações ao prêmio Jabuti, seleção para o Catálogo da Feira de Bolonha e selo altamente recomendável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).

São histórias “ordinárias”, sobretudo porque nos remetem a situações e diálogos protagonizados por tipos das camadas populares, tão caros à Idade de Ouro da literatura russa: Dostoiévski, Górki, Gógol, entre outros. Nas palavras do editor Alvaro Machado, “Ora náufragos, ora emergentes, oscilando na intensa maré de mobilidade da sociedade brasileira nos últimos trinta anos, os personagens de Leusa Araujo expõem, entre falas à primeira vista banais, a comovente autenticidade de seus desejos, perplexidades e alegrias.”