Utilizamos cookies para melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade..
A obra Natan, o Sábio, do pensador alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), de espírito marcadamente iluminista, assinala um dos problemas centrais da relação entre Modernidade e religião, a saber, a questão do respeito à diversidade religiosa. Com a ascensão da razão à dignidade do altar, o questionamento esclarecido das guerras religiosas tornou-se inevitável: como aceitar como razoável que guerras sejam legitimadas, fomentadas e produzidas por discordâncias religiosas? Tal questão é acompanhada de outra igualmente importante: se as religiões que mais fomentam guerras religiosas no interior da civilização ocidental são as “religiões do livro” (judaísmo, cristianismo e islamismo) e se elas, por vias diferentes, defendem o amor incondicional, a justiça entre pessoas e povos e a paz universal, como é possível aceitá-las produzindo guerras e ódio? A intolerância religiosa e suas práticas de violência passam a ser signos evidentes de contradição. Por isso, a crítica severa a toda violência religiosa passa a ser parte necessária ao programa de emancipação civilizacional implícito no Iluminismo oitocentista. Para dar conta desse desafio, a peça teatral Natan, o Sábio de certo modo orienta-se pela disjunção entre devoção a Deus e pensamentos doutrinários acerca de Deus, como evidente em uma fala central da personagem Recha: “Muito mais consoladora, contudo, soava para mim a doutrina, segundo a qual a devoção a Deus não dependia de maneira alguma de nossos devaneios sobre Deus.” Por este motivo, o sábio judeu Natan poderia se relacionar pacífica e integralmente com cristãos e muçulmanos, pois toda intolerância é somente sinal de um devaneio humano acerca de Deus. Não se trata, no caso de Natan, de algum tipo de apologia à tolerância, pois ele não se contenta em suportar as diferenças religiosas. A sabedoria de Natan, que atravessa toda a peça, identifica-se com a visualização da dignidade da diferença religiosa, com a necessidade de respeito a cada tradição de fé e com a tarefa de se produzir relações dialógicas entre praticantes das três religiões abraâmicas mencionadas. A sabedoria da peça apresenta-se na capacidade de manutenção das diferenças religiosas por meio da interrelação dialógica entre os religiosos. No atual cenário brasileiro de contínua violência religiosa, onde cristãos difamam e por vezes atacam candomblecistas e umbandistas; onde as bancadas políticas cristãs legislam contra mulheres, homossexuais, negros/as, candomblecistas, umbandistas e ateus; onde programas de televisão religiosos continuamente produzem discursos de ódio, neste cenário, é preciso ler e reler a obra de Lessing ora traduzida pelo filósofo brasileiro Marco Antônio Casanova. Ela nos capacita a rejeitar o idiotismo de toda “guerra santa” e a vislumbrar novas possibilidades de relação com a fé. Caso contrário, manteremos aquela ligação denunciada por Nietzsche (outra forte voz contra a violência religiosa) entre monoteísmo e monótono-teísmo, ligação essa que só é possível porque os monoteísmos tendem historicamente a se afirmar por meio da anulação sempre violenta de outras formas de experiência divina. Contra isso, Lessing mais uma vez nos ensina a dizer “basta”!
Nome
NATAN, O SABIO
CodBarra
9788564565265
Segmento
Artes
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
187
Peso
350,00
Aviso de Cookies
Usamos cookies para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você concorda com nossa Política de Privacidade.