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De certa forma, acompanho a tessitura de N’Ágorainda desde a década de 1990. Naila Rachid não teve pressa, a decantação do livro se operou de maneira lenta e poderosa, e hoje temos nas mãos toda essa densa matéria poética, tecida de assombros e linguagem tensa.
O título do volume, fusão que conduz ao centro lírico de abstrata, teatral, grega praça pública, é instigante e intrigante, alguém com uma câmara nas mãos a investigar o mistério nos abertos espaços da arte, da cidade atemporal. De saída, os títulos dos poemas provocam forte impressão. Constituem-se, em geral, de imagens que são como que independentes coágulos poéticos: “distraída eternidade”, “cálice de nuvens”, “desesquecendo indamais”, “rastro grão”, “pedra de escândalo”. Mas é a sequência dos versos que levará o leitor a se perder na selva selvagem de uma poética em estado de alta exaltação, consciente experimentação. “Sim, este viés enrouquece / o corpo passado das palavras / criptas – há um coro milimaginado / de través qual eco / serpejante o verso da Terra”. Nessa sequência de luminosos novelos, o lance mallarmaico dos dados se faz “lance de nadas”, homenagens concretistas.
As referências literárias, bem como as transversalidades onde escorrem relâmpagos das artes plásticas, do teatro e do cinema, todo esse organismo entrançado torna rica a leitura, transbordadas pulsações. Em poema dedicado a Joan Brossa, se “aspira / ao labirinto / um homem / de sonho / íris câmara”. Por vezes azul perfume Rimbaud, inventiva exalação Joyce e quantas outras centelhas? Afinal, que sabemos, se tudo é poesia, se as imagens se precipitam, se acasalam em saltos e sustos delicados, ríspidos? E o ator a se equilibrar em actantes do Vazio, da Plenitude, o ator sem o corpo da ação a respirar outro etéreo universo, intangível dimensão. Talvez sonhar um sol oculto no verbo-enigma de Clarice. E Naila prossegue: “Serpeardente / máscara / da noite malabares”, o se transvestir de tanta poesia, com a belíssima metáfora a eclodir em “fósforos-dos-ventos”. Sem que se possa esquecer o emocionado acróstico dedicado ao pai, “arabesco intenso”, puro “Teatro do Sonho”. Ou conhecer que “Tudo são Todos / peregrino o Livro do Mundo / inventalíngua capitula / um políssono”.
Acrescentaria: uníssono sonido de um sono de todos, e Ninguém. Ecos de Rilke ou Homero? “A máscara vazia treme / carnavalhando / a risada das almas”. “Quanto dura o amanhã?” “Sombras vibrantes, música da Luz”. Ninguém. (Pois o que em profundidade segue latejando é o reter, reler o Livro: eis!)
Nome
N'AGORAINDA
CodBarra
9788564022560
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
144
Peso
220,00
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