“É impossível escutar inocentemente a Sonatina No. 1 em Fá Maior de Diabelli depois da leitura de Moderato cantabile. Considerado por muitos como seu melhor livro, aqui Duras conta uma história clássica lançando mão da tensão moderna e envolvendo-nos na bruma de uma epifania trágica. Associado frequentemente aos experimentos lacunares e ao estilo minimalista do Nouveau roman, o texto traz igualmente o inconfundível talento da escritora para a criação de diálogos tão belos quanto impenetráveis. Uma série de perguntas pairam no ar ao longo da trama, sem nunca encontrarem pouso nem resposta. Uma mulher e seu filho, uma cidadezinha à beira-mar, a magnólia de um jardim, um crime, aulas de piano, inúmeras taças de vinho, duas mãos se tocando furtivamente. Por meio de elipses e descrições intensas, Duras traduz em forma de literatura a relação de atração por eventos traumáticos. Assim é que nos transporta para o espaço mórbido e misterioso de um caso que passa a nos acompanhar como um eco de todas as histórias sem solução de que fomos um dia agentes ou testemunhas.”

Laura Erber