Esperas, escolhas, uma vida partilhada, a casa da infância. Neste segundo romance, Mayra S. Mayor alaranja nosso silêncio e vibra nosso coração. Somos apresentados aos “primos” Tota e Toni e à matriarca Dulce, a avó que costura a potência da família e ancestralidade, aquela que honra a memória do que se vive, que é símbolo maior de amor verdadeiro, resiliência e força. "Meu mar te espera" é cais, conforto, “gosto doce, fresco, molhado”.

Mas também é a dicotomia presença/ausência, mortos, caminhos tortos. O crescer em meio a dedos trêmulos, fracassos, medos. É “dor, teias, raízes”. Uma casa que segura sentimentos e abriga vidas que se entrelaçam e se distanciam, mas ligadas por um oceano de vivências. Colo, cura, ir e vir, amparo e partidas. Mesmo densa, a escrita da autora acalenta e sua voz é fluida como o mar que nos espera, ora calmo, ora tempestade, mas sempre a levar nossos brios por entre conchas e lirismo.

Mayra possui esse dom de fazer doer bonito, de mexer em feridas e limpá-las, como se a vida pudesse ser renovada com bolos de Coca-Cola e a gente pudesse sempre navegar, regressar, desaguar, “voltar para a nascente de onde nunca deveria ter saído”.