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Quem conhece o Visconde de Taunay apenas da leitura de Inocência, vai encontrar nessas Memórias um outro escritor, de juventude e atualidade insuspeitadas. Escritas entre 1890 e 1899, portanto nos anos que antecederam sua morte, e sem ter sofrido uma revisão final pelo autor, suas páginas parecem, às vezes, anotações de diário, daquelas que guardam o frescor das experiências e do impacto por elas causado. Nesse sentido, lembra o interessantíssimo Três Mil Milhas através do Brasil, de James Wells, autor mencionado no texto como tradutor inglês de Inocência. Taunay fala de sua infância como de acontecimentos recentes, de sua juventude com toda a inconseqüência e auto-indugência do jovem. Revela sem constrangimento suas fraquezas, fiascos e frustrações. Observa o seu ser em formação como os seus pais o observavam: com carinho e tolerância. Antonio Candido admira-se, lendo, na Formação da Literatura Brasileira, as memórias do romancista, diante de sua ingênua vaidade, que se compraz, por vezes, em transcrever elogios a sua beleza ouvidos de contemporâneos.
Quem conhece Taunay de A retirada da Laguna, encontrará de novo relatos de episódios de guerra, desta vez em viés mais pessoal e até auto-centrado, mas sempre impressionantes na exposição da precariedade e do avanço errático do exército brasileiro, do descaso e falta de discernimento das autoridades. Desamparado, vendo frustradas suas expectativas de promoção, chorando de medo de morrer, febril, vendo os companheiros tombarem vítimas de doenças, mesmo assim o impulso de vida do jovem tenente parece buscar em episódios pitorescos um contrapeso a quadro tão depressivo, revelando todo um lado brancaleone da campanha contra o Paraguai.
Outro aspecto curioso das Memórias são as lembranças da família imperial, retratada com a intimidade de um vizinho, como velhos amigos de seu pai e seu avô. Nem poderia ser de outro modo: Taunay brincou em criança com as princesas herdeiras e tem um certo orgulho em mostrar sua familiaridade com os pequenos incidentes da vida do clã reinante. Se contribui, porém, para o anedotário do Império, sugere, por outro lado, mais do que conta. Soa, nesses momentos, mais como um causeur do que um escritor ciente das implicações de seu testemunho. Mas, volta e meia, toma consciência de seu papel e se pergunta, inseguro, se aquilo tudo interessará ao seu futuro leitor. Aliás, a questão da permanência de sua obra ocupa intermitentemente seu relato. Por suas idas e vindas, dúvidas, leveza de estilo e tom informal, pode-se dizer que o Taunay das memórias é um anti-Nabuco. Tão diferentes são seus depoimentos sobre uma mesma época, apesar do semelhante privilégio de classe, que mais produtivo, até, seria tomá-los como autores complementares, duas visões de um mesmo Brasil. Como documento histórico, o livro de Taunay não pode ser tomado ao pé da letra. Mas como documento de um espírito de época, as Memórias são, mais que oportunas, imprescindíveis.
Nome
MEMORIAS
CodBarra
9788573212204
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
592
Peso
800,00
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