O vigor de um paradigma teórico mede-se, entre outras coisas, pela capa-cidade de inspirar novos estudos afins sem perda da força original. Este trabalho de Ricardo Genelhú corrobora a afirmação. No essencial, a investigação de Ricardo Genelhú mostra como o padrão normativo-disciplinar, instaurado no século XIX, permanece eficaz na contemporaneidade. Medicina e Direito aliam-se para formar um dispositivo de poder orientado para a criminalização do patológico e a patologização do crime. O efeito obtido é a legitimação da marginalização dos excluídos da ordem dominante pela via do saber supostamente científico. ...Ricardo não hesita em dizer com todas as letras de que matéria é feito o direito penal, que, em princípio, deveria se orientar pela soberana ideia de justiça. Sua análise é dolorosa, difícil de digerir, mas comprometida com os valores básicos da autonomia e liberdade do sujeito. Às vezes, a cirurgia intelectual tem de ser feita sem anestesia. Estamos diante de um trabalho desse porte. Importante para os profissionais do Direito, da Medicina – em especial das disciplinas psiquiátrico-psicológicas –, e, sobretudo, para todos aqueles que acreditam na dignidade humana como o valor supremo de nossa cultura.