Maria Pão Doce Frito é título do livro e nome da personagem, a mais lírica, imaginada em interação lúdica no ritual do café da manhã. O pai conta a história para o filho de três anos. E a repete, após cada noite, dia. A história inventada para o filho virou livro para todas as outras crianças, que com seus pais tomam o café da manhã. Presente de Natal para todos os anos.

Maria Pão Doce Frito precisava aparecer como figura. O artista José Roberto Aguilar a desenha como imagem encantada. Ele a retrata em todas as cenas da história contada por Ricardo Araújo ao filho João Ricardo.

O catálogo da Musa, por graças da boa estrela (aqui os livros nos caem do céu) já apresenta uma trilogia em que os pais escreveram para os filhos. Do Prêmio Nobel Rudyard Kipling, O Elefante Infante, história contada e escrita para filha dele Josephine, de 8 anos. Fábio Aristimunho Vargas, poeta e tradutor, lia os versos do livro que escrevia para Ana Júlia, O Show dos Bichos: poesia antenada para crianças idem, antes de ela nascer. E Ricardo Araújo, com o pincel mágico de José Roberto Aguilar, o arrojo artístico.

O próprio livro seduz à leitura e faz leitores. A influência maior é a dos pais. Leitura vem da mais infantil memória como as fibras do pão-doce das antigas padarias. É pão também.

O pão é nosso de cada dia. Protagonista do livro é o pão. O pão-doce esquentado pelo carinho dos dois ursinhos, que dão o apelido à Maria. Que gostava de acordar com a chamada deles: “Maria, o pão-doce está friiiito”. Mas Maria talvez tenha crescido e saiu em busca da cidade.

O pão é nosso dia a dia. Ele é quente como o coração das crianças, mas pode ficar frio quando esquecemos de requentá-lo com o mundo e a imaginação infantis. Maria Pão Doce Frito foi escrito nesses momentos em que nos tornamos crianças, por meio de nossos filhos. Isso ocorreu com o autor quando contava histórias para seu filho mais novo. Três anos de idade! E ele gostava de ouvir! Foi aí que voltou à infância por meio da infância dele, pois enquanto contava, no mesmo instante, o autor saltava para a vida passada dele e escutava, pela própria voz, a voz do pai. Não era o autor quem falava e sim a Maria do pão requentado, do pão-doce amanhecido, como uma espécie retratada, relatada, rediviva, pelas gerações sucessivas de ursinhos amigos e fazedores de pães-doces fritos que, ao ser esquentados, reaquecem o coração duro e frio dos "adultos". Um forno quente em dias frios são espaço propício a muitas lembranças.