Como se fossem cientistas quânticos, muitos poetas se contentam a falar com outros poetas. Assim, muitas vezes eximem-se do compromisso com a clareza, travando monólogos surdos de criptógrafo para criptógrafo.

Pois, então, a torre de marfim que se abale: o volume que se nos oferece aqui trata, de modo científico, a arte de versejar. Luís Ernesto Lacombe faz "poesia aplicada" e, num só gesto, lança na imaginação dos pequenos leitores as sementes de duas atividades humanas transcendentes: a poesia e o esporte.

Poesia aplicada, pois poesia como meio a serviço de ideias claras, informação, prazer e alegria. Como quem dá saltos triplos, cortadas, enterradas, piques e arremessos, Lacombe exercita, a largas braçadas e passadas, a modalidade mais popular dos jogos poéticos - o soneto. Nestas folhas elegantes, (re)encontramos a musicalidade e ritmo que só o soneto pode propiciar, quando em mãos acertadas.

Craques fazem as coisas mais complexas parecer sopa. Como Lacombe, que transita sem cerimônia, preciso e afiado, pelo 4-4-3-3 da poesia.

Destarte, a expressão "espírito esportivo" ganha nova dimensão e sentido. Pois, além de apresentar o be-a-bá que nos permite amar a arte do esporte, estes poemas nos revelam o lírico e o épico, amalgamados no certame olímpico.

Luís Ernesto Lacombe demonstra que Lombroso não errou tanto assim. Tá bom, afirmar que o vício se revela na fisionomia do criminosos pode ser inexato. Já a poesia, esta não - a poesia está na cara.

Pedro Bial