Este livro reúne as contribuições para uma teoria crítica da informação dos últimos 50 anos, relacionando-a com sua história desde o século XIX e suas raízes na modernidade, dentro de um amplo quadro que engloba teorias e autores como Aristóteles, Kant, Hegel, Marx, Lukács, Escola de Frankfurt, Bourdieu, Foucault, Žižek, bem como os clássicos da biblioteconomia e da informação e da comunicação. O fio condutor desses textos é um pensamento social e crítico, ou seja, pensar a teoria da informação como inseparável de uma interpretação e prática dos processos sociais, econômicos e políticos dos processos comunicacionais e informacionais diante de transformações estruturais de opressão, controle, vigilância e discriminação que aparecem historicamente desde meados do século XX em relação às tecnologias digitais.

Coloca uma base metodológica crítica para o pensamento e a ação no campo informacional e abre-o para um diálogo global em toda a sua complexidade, que requer um olhar atento para situações sociais e políticas, tanto ética quanto legalmente insustentáveis para além das diferenças culturais, bem como uma consciência não menos vigilante da diversidade e profundidade das tradições do pensamento e suas repercussões nos modos de vida que sustentam identidades individuais e sociais. Um pensamento crítico da informação tem a tarefa ética de pensar sobre esses dois aspectos e de fazê-los dialogar sem perder de vista o que constitui o horizonte digital que nos marca historicamente no século XXI. Um pensamento crítico tem bases históricas, mas seu objetivo é uma interpretação da história como o campo da práxis humana, caracterizado pela possibilidade de que o que é dado como resultado possa ser alterado e que essa mudança deva levar em conta as relações de poder entre nós mesmos e com o mundo que compartilhamos ou não.

Os movimentos ecológicos atuais passam por uma crítica da linguagem tecnológica e de seus instrumentos de conhecimento e poder. Não podemos mudar nosso relacionamento desastroso com o mundo se não mudarmos nossos modos de viver, e não podemos mudar nossos modos de viver se não mudarmos nossos modos de pensar e agir, ou seja, refletir criticamente sobre nossos modos de falar sobre o mundo e sobre nós mesmos, em cujo centro estão o conhecimento científico e os poderes tecnológicos. Este é o grande desafio teórico e prático do pensamento crítico da informação no século XXI. O presente livro é uma grande contribuição para esse pensamento, o qual desejo que tenha muita fertilidade, não apenas no Brasil, mas também no chamado "Sul Global", cujo destino é inseparável do "Norte Global", assim como do "Extremo Oriente" e do "Extremo Ocidente", sem esquecer a precariedade dessas denominações geográficas. Parabéns aos autores pelo trabalho crítico em equipe, que mostra que é possível pensar em comum sem perder de vista as abordagens e os interesses individuais que enriquecem o todo.

Rafael Capurro