O Rio de Janeiro, na transição do Estado Novo para o regime constitucional de 1946, ainda guardava especificidade em relação a outras cidades brasileiras: era a sede do Estado Nacional. Sua população convivia estreitamente com os centros vitais do aparelho de Estado. Nesse espaço dinâmico e complexo, povoado por comunistas e trabalhistas, emergiu um partido socialista que se apresentou como democrático, para se diferenciar do autoritarismo soviético. Apesar de sua longa continuidade, sobrevivendo a polos opostos, a bibliografia preferiu dar destaque aos polos desprezando essa insistente cunha do socialismo democrático. Pois, foi esse objeto que F. Alexandre Hecker decidiu revisitar, fundado em décadas de pesquisa. Somente por essa razão a originalidade de sua História do socialismo democrático brasileiro já estaria plenamente justificada. Mas Hecker ousou ir mais adiante, ao situar a cidade do Rio de Janeiro como centro difusor e propulsor da proposta. No texto, são desvendadas as relações no interior do sistema partidário no âmbito local, mas sobre determinadas pela conjuntura nacional. Estão também, a luta pelas condições de vida das classes trabalhadoras, a resistência à ditadura de 1964, e seu prolongamento na nova consolidação democrática, depois de 1988. Não importa que nem sempre o partido tenha sido vitorioso, o que conta foi sua extraordinária resiliência no sistema político. Todos esses temas compõem o périplo traçado pelo autor, tornado referência fundamental para o extraordinário percurso do socialismo democrático no Brasil.
Paulo Sérgio Pinheiro, Professor Titular de Ciência Política da
FFLCH-USP.