Este é o segundo volume da História das estatísticas brasileiras, uma coleção em quatro volumes cobrindo 180 anos de história da atividade estatística entre nós, 1822 a 2002. Neste volume, intitulado Estatísticas Legalizadas, é abordado o período da chamada República Velha, entrando pelo governo de Getúlio Vargas, c.1889-c.1936, com incursões aos períodos anterior e posterior. Como seu nome sugere, enfoca a tentativa de consolidar a atividade estatística pela legislação, intensa e variada, como forma de superação à federação extremada que ignorava as orientações da repartição estatística federal, a Diretoria-Geral de Estatística. O governo provisório republicano, por ação de próceres positivistas (Aristides Lobo, Timóteo da Costa, e outros), restaura a repartição estatística havida no Império, e a manda fazer o censo de 1890 (como previa a legislação monárquica); aquele tempo inicial, confuso e convulso, não seria propício à atividade estatística, e os resultados seriam precários. Em 1891, a primeira constituição republicana, nos moldes da americana, mandava fazer censo a cada dez anos; contudo, pese a força daquele preceito, o de 1900 seria precário (Bulhões Carvalho o salvaria das cinzas), não haveria o de 1910, nem, mais tarde, o de 1930. Restou mesmo, em termos de censo, com muita glória, o de 1920, sob o comando exemplar de Bulhões Carvalho, a figura chave desse tempo. Seus números seriam expostos no Pavilhão da Estatística, “Pavilhão da Ciência da Certeza”, na Exposição do Centenário da Independência (1922). Par a par, no contexto da separação Igreja-Estado, seria laicizado o registro civil, com fortes atribuições de competência, inclusive de reformas legais, à Diretoria-Geral de Estatística, tema que lhe exigiria intensa atenção, e lhe poria no epicentro de discussões com os chamados demógrafos-sanitaristas: Aureliano Portugal, Hilário de Gouvêa, Bulhões Carvalho, Sampaio Viana, e outros, todos médicos e sanitaristas, dedicados à atividade estatística (recebendo influência intelectual de M. Block, F. Virgilii, C. Jacquart, entre outros) . Nesse contexto será realizado, em 1906, um censo no Distrito Federal, sob a atenção imediata de Pereira Passos, e que será um censo exemplar, levando saberes ao Censo de 1920; Aureliano Portugal será seu artífice. Então, em 1908, acontecerá a Exposição do Centenário da Abertura dos Portos, cuja publicação comemorativa, editada por Bulhões Carvalho, sairia também em esperanto. Ao final desse tempo, já depois da revolução, começa uma mudança marcante na atividade estatística. Domina esse cenário o excelente Teixeira de Freitas (à frente da Diretoria de Informações, Estatística e Divulgação, no recém-criado Ministério da Educação e Saúde Pública), em estreita parceria com Juarez Távora. Saber e poder; de cuja junção sairia em 1934 o Instituto Nacional de Estatística (tornado, em 1938, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); em 29 de maio de 1936, com a posse de Macedo Soares na presidência, começa a funcionar, numa trajetória de sucesso ainda hoje. Teixeira de Freitas, mentor e animador dessa revolução na atividade estatística, traria sua régua e compasso de sua vivência mineira nos anos 1920, quando entrou na rede de saberes e de poderes que influiria os destinos da República: Francisco Campos, Gustavo Capanema, e outros. Essa é a história contada neste volume, ilustrado ricamente, em seis partes, com trinta capítulos (alguns escritos por Marco Aurélio Martins Santos). Ao final, há uma síntese do conteúdo apresentado, com duas linhas do tempo, uma ligando a temática estudada à História da República, outra evoluindo a atividade estatística. A publicação inclui, ainda, bibliografia e índices de assuntos e de nomes que facilitam o acesso e a recuperação das informações. O CD-ROM anexo contém, além do texto do volume, a íntegra de relatórios, e a legislação do período em foco.