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Os santuários de Ártemis, divindade que os latinos assimilariam mais tarde a Diana, situavam-se geralmente nos limites, nos confins de todo território cultivado, chamado pelos gregos de eskhatíai: a orla, as extremidades, o ponto onde estão inscritas as complexas relações que a civilização estabelece com a selvageria e a natureza com a cultura. As muralhas urbanas circunscrevem o adulto, o cidadão, suas lutas e guerras. Leis e códigos humanos. Do outro lado, extra-muros, ficam a “vida espinhosa” e as feras selvagens. E não é difícil imaginar a tragédia de Hipólito e Fedra acontecendo numa dessas margens instáveis, tênues, que separam a terra cultivada da floresta virgem, a paixão da razão – embora os antigos a situassem geograficamente às vezes em Atenas, às vezes em Trezena, árido burgo natal de Teseu, o grande herói civilizador. Filho de Teseu e de uma amazona – mulher guerreira e selvagem –, Hipólito é um caçador que devotou sua vida ao culto da virgem deusa Ártemis. É ferozmente casto. É belo. Terá talvez quinze anos de idade. Fedra pertence à linhagem do Sol e é irmã do Minotauro, fruto dos amores monstruosos de sua mãe com um touro sagrado. Seu pai, o cretense Minos, rege o reino tenebroso dos mortos. Casada com Teseu, é uma jovem rainha estrangeira em terra grega e seu nome, que significa “a luminosa”, é o mais claro e um irônico signo de suas insolúveis contradições: Afrodite sopra-lhe nas veias uma paixão impossível por Hipólito, cuja essência é a castidade, desencadeando a noite escura em que ela vai desmoronar lentamente, à sombra de Teseu, figura arquetípica do poder – erótico, político, religioso, paterno. No tabuleiro das paixões proibidas, uma quarta figura é entretanto indispensável ao bom funcionamento dessa peça de teatro antigo: a Ama ou Aia da rainha que, ao tentar desfazer os nós que embaraçam as personagens ao seu destino, a ele as vai atando, mais e mais. Se Eurípides, que viveu no século V a. C., encena sua tragédia num espaço marcadamente ateniense, no horizonte da sofística e do conceito de glória viril, Eros assume, entretanto, a regência desse teatro das paixões, desde Sêneca – filósofo contemporâneo de Nero – até Jean Racine, poeta da corte de Luís XIV, deslocando a figura da grande amorosa para o centro do palco, num jogo de textos que se interpelam, se negam e se espelham uns aos outros; e isso infinitamente, caso o espectador queira mover, com sapiência e cuidado, o calidoscópio dos discursos, metáforas e silêncios do grego, do latim, e do francês. Fazendo parte da mesma pulsação de imagens, um estudo introdutório a esta edição de Eurípides, Sêneca e Racine precede o leitor das três tragédias, à maneira de uma Ariadne que, segundo certas versões do mito de Teseu, teria guiado o herói nos descaminhos do labirinto com o brilho de um diadema, presente de Afrodite e das Horas. Sabe-se também que, abandonada em Naxos por Teseu, Ariadne ali teria sido recolhida por Dioniso, que, tomando-lhe da fronte o diadema, atirou-o para o alto, onde as pedras coloridas se transformaram em fogos celestes: a Constelação-do-Diadema, entre o Homem Ajoelhado e o Homem-Que-Segura-a-Serpente.
Nome
HIPOLITO E FEDRA: TRES TRAGEDIAS
CodBarra
9788573212624
Segmento
Artes
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
496
Peso
670,00
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