Toninho, empresário aposentado, viúvo sem filhos, enfrenta as restrições sociais impostas pela pandemia de Covid registrando num diário sua vida doméstica e as relações com os vizinhos do prédio em que mora na praia do Flamengo. Suas confissões mais secretas são interpolações de livros que vem lendo ou já leu. Sugere estar imitando o Conselheiro Ayres, aquele do “Memorial de Ayres”, último romance de Machado de Assis. Não o imita bem, pois o velho Ayres era homem sóbrio, reflexivo, recatado com o sexo oposto, e o narrador de “Helô” não passa de um sexista, gozador da vida, às vezes cínico, e obediente às boas leituras que sua irmã solteira, essa sim, culta, manda-o ler. Toninho se apaixona pela jovem e bonita executiva que “conhece de vista e de rabo de cavalo” em suas caminhadas pelo calçadão do Aterro. A paixão é arrebatadora.

“Helô” fecha a trilogia iniciada com “Memórias da diverticulite” (Thesaurus Editora, 2019), que narra a partir de São Paulo a fratura nas relações sociais motivadas pela última eleição presidencial; e “O livro de Carlinhos Balzac” (Topbooks, 2021), flagrantes da vida social, econômica e cultural do Rio de Janeiro no final do século passado, narrados por um empresário do mercado financeiro. As três novelas movem os mesmos personagens, embora tenham vida própria. Este é o décimo quinto livro do mineiro Pedro Rogério Moreira (BH, 1946), que cresceu em meio à vasta biblioteca de seu pai e começou a vida produtiva como balconista da livraria e editora mais importante de Minas e uma das maiores do Brasil, a falecida Itatiaia. Exerceu o jornalismo diário em São Paulo, no Rio e em Brasília, e há vinte anos trabalha no setor de telecomunicações. Pertence à Academia Mineira de Letras. Todos os seus livros – de crônicas, estudos literários e ficção – são confessionais. Mas ele afirma: “O que escrevo é a memória dos outros”.