Hamlet, se não é a melhor e mais bem acabada obra de Shakespeare, é sem dúvida a mais afamada e a mais original do seu maravilhoso engenho. Ninguém ainda como este profundo analista dos sentimentos humanos descreveu com tanta verdade os desencontrados afetos que agitam o coração, nem ninguém melhor do que ele mediu a força e a têmpera das ocultas molas que incitam a vida moral. O amor, o ciúme, a ambição, a avareza, e as demais paixões que ofuscam a inteligência, ficaram magistralmente retratados nas suas diversas criações e os seus sonhadores personagens têm caracteres tão peculiares que se fixam na mente, qual se tivessem vida e realidade de retratos de Velásquez. Em Hamlet o insigne autor penetra ainda mais talvez do que costuma nas profundezas do sentimento e descobre nas trevas desse fundo abismo inesperados gérmens de ação. Cada dia ocorre algo de novo que dizer sobre este verdadeiro prodígio literário, que ainda por largos séculos há de cativar a atenção de todos os que compreendem o imenso valor dessas excepcionais jóias que o gênio produz e que são o adorno e luzeiro da inteligência humana.