Na tentativa de curar feridas e dar um fim ao luto, a protagonista Suzana rememora as dores e as pequenas alegrias de um casamento de quase vinte anos. Sentimentos controversos estruturam esse romance que se configura em quase carta ao marido morto. A história orbita temas que, para os leitores desavisados, parecem fugir do universo narrativo pelo qual a autora é reconhecida, mas que, no fundo, se aproximam ao comprovar a urgência dos laços afetivos em um mundo de alienação e abandono.

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A leitura desta obra desafia nosso possível bem-estar existencial, pois propõe a inquietação como motivo. Os temas de amor, comportamento humano, relacionamento cotidiano, que nela aparecem, imbricados a outros, fazem com que o risco da leitura se torne o risco de conhecer a própria vida. Nesse caminho, a autora Georgina Martins mostra habilidade de agilizar a narrativa, ao construir a trama de maneira segura e com linguagem entre o lirismo e a violência. Literatura de intimidades, propicia o devassar de emoções e vivências fortes.

A narradora, Suzana, detém a palavra, aciona os incidentes na relação com Dionísio, passa a limpo o passado. A imagem que dá título ao texto, “maneiras de fazer macarrão”, prenuncia perspectivas de dominação, submissão e resistência, em que personagens aparecem sem disfarces, expostos com honestidade, sempre com um tom de verossimilhança. Afinal, literatura de verdade.



Rosa de Carvalho Gens: professora Associada da Faculdade de Letras (Literatura brasileira) da UFRJ