Uma das perguntas que pode inquietar substancialmente o espírito humano é o que seria o homem. Desta indagação, certamente, surgirão outras: o que há para se viver enquanto pessoa humana? Qual seria a melhor forma de existir? Como lidar com as contradições,tensões e desajustes que marcam a existência humana?

As respostas certeiras parecem nos escapar a cada instante e podemos, inclusive, duvidar se elas realmente existem;se nós, por este motivo, não as improvisamos conforme as circunstâncias que vivenciamos – o movimento de busca por respostas constituiria as respostas possíveis?

De pergunta em pergunta, mergulhamos a alma em nossa existência, pronos para ampliar as problematizações que refinam nossa percepção do mundo, do outro e de nós mesmos. Fervemos em nós indagações, impermanências e o desejo de evaporar-se para transmuta-los em linguagem. A poesia, Terra. Em sua constância, em seu movimento, é apenas um fio que se desenrola, maleável. Uma sequência de gotas
que se espraiam como podem, num fluxo de ordem e desordem.

Gotas está dividido em duas seções: Gotejamento, com poemas mais longos, e Gota, com poemas mais curtos. A passagem desafiadora do gotejamento à gota aponta para um dos anseios estéticos deste livro: explorar poeticamente o limite máximo da última gota que nos resta.

Sem resposta, mas desaguando em perguntas, os versos vão minguando progressivamente, secando as nascentes, como quem corta o chão. A poesia
é gota que facilmente se escorre pelos vãos das nossas mãos. Iremos nós com
ela?

como inquietação, busca e expressão, transfigura, pela palavra afiada, o mundo e o homem, ambos inseparáveis na existência, mas nem sempre conciliáveis.

É da tensão e do conflito entre homem e mundo que brota Gotas, livro de poemas que se apresenta como um goteja mento poético que se lança a desenhar caminhos de pequenas goteiras e a convidar o leitor a percorre-los para se perder nestas águas mínimas.