De forma objetiva, cativante e rigorosa, um dos maiores especialistas na obra do pensador francês aproxima o leitor dos temas tratados em seus textos, anotando suas contribuições sobre a literatura, a filosofia e a história

“Não perguntem quem eu sou nem peçam que eu permaneça o mesmo… Deixemos que os nossos burocratas e a nossa polícia verifiquem se nossos papéis estão em ordem.” Com essas palavras, escritas por Michel Foucault em A arqueologia do saber, Gary Gutting, um dos maiores especialistas na obra do pensador francês, inicia o livro Foucault: uma brevíssima introdução, lançamento da Editora Unesp. O objetivo principal é abrir, de forma objetiva, cativante e, claro, rigorosa, as portas do pensamento deste complexo filósofo.

“Ao menos até o momento, conhecemos muito pouco acerca de Foucault para ir além de especulações sobre a relação de sua vida com a sua obra”, explica Gutting. “Mas por que insistir em inferir a vida na obra quando a vida pode ser lida a partir da obra? Foucault dedicou boa parte da vida a escrever livros, e eles nos dizem mais a respeito dele do que o conjunto de curiosidades aleatórias que escaparam das distorções das memórias e dos próprios esforços de Foucault para preservar sua privacidade.”

Caminhando ao longo de 11 capítulos, Gary Gutting examina aspectos biográficos de Foucault com relação aos posicionamentos social e político, suas contribuições à literatura, à política, à filosofia e à história, trafegando também por temas caros ao pensador, como sexualidade, loucura e poder. Gutting sentiu, ainda, necessidade de acrescentar, na segunda edição do texto original – que o leitor tem em mãos – o capítulo “Foucault depois de Foucault”, em que verifica o legado do francês após sua morte. O livro conta também com extensas referências bibliográficas e leituras complementares.

A obra demonstra como Foucault rejeitou modelos tradicionais de pensamento e apresentou um olhar sobre seus temas de interesse que permanece amplamente debatido. Pois, a partir disso, o leitor tem a oportunidade de se aproximar de textos como A arqueologia do saber, As palavras e as coisas, História da loucura, Vigiar e punir, História da sexualidade, entre outras. “Foucault morreu extremamente jovem [...]”, lamenta Gutting. “Para grande prejuízo nosso, nunca veremos os novos horizontes que Foucault nos teria descortinado se tivesse vivido mais alguns anos.” Felizmente, ainda é possível navegar pela vastidão de sua obra.