1928. Henry Ford envia homens e materiais para construir Fordlândia à margem do Rio Tapajós, no coração da Amazônia brasileira. A cidade operária inspirada pelas company towns estadunidenses era dotada de um seringal de produção intensiva, com o objetivo de fornecer a borracha necessária à produção dos pneus dos automóveis fabricados na Ford de Michigan. Fordlândia era também um projeto de “civilização” que incluía usinas, moradias, escolas e hospital, construídos de acordo com um modelo importado. Uma sucessão de fracassos se segue. A água, a terra, os fundos e as revoltas derrotam o sonho de Ford.

2018. O coletivo Suspended spaces organiza uma residência a bordo de um barco que navega de Santarém a Fordlândia. A residência reúne vinte artistas e pesquisadores – europeus e sul-americanos, homens e mulheres, de 27 a 76 anos – para uma temporada na cidade, trabalhando com os restos das usinas, das máquinas e das casas, das memórias e narrativas, dos sonhos e talvez de alguns fantasmas.

2023. Publicado originalmente em francês em 2020, num período de crise sanitária, política e econômica, o livro ganha a tradução para o português num momento em que fica mais nítido o impacto da expansão do garimpo e da agricultura na vida dos indígenas e ribeirinhos da Amazônia – bem como sua importância no estado de emergência ecológica em que se encontra o planeta.

Fordlândia interroga o encontro do fordismo, exemplo emblemático do projeto moderno ocidental e colonial, com um território amazônico que, ontem como hoje, dá ensejo a múltiplas projeções, econômicas e ambientais, antropológicas e artísticas, turísticas e científicas. A história da cidade é também uma história de resistência – dos trabalhadores, da floresta – à voracidade da lógica capitalista.